eu voltei + tag da lua cheia

31 de março de 2018

Dizem por aí que tarde é melhor do que nunca, e como eu sou uma grande devota da sabedoria popular milenar, eu resolvi voltar, mesmo depois de um ano sem dar as caras. Desde que entrei na faculdade as coisas se tornaram complicadas, e por isso fui deixando mais de lado duas coisas que sempre me fizeram bem: ler e escrever. Felizmente, percebi que fazer o que gosta (e que teoricamente não te dá nenhum “retorno”) no meio de tanta coisa atropelada é um ato de resistência e de autocuidado. Então resolvi voltar, sem viola na mão e nem cachorro latindo, mas com a mão coçando e cabeça gritando: por favor, volte para a blogosfera.

Muita coisa aconteceu desde o meu último post. O mundo da internet não está sendo muito gentil com blogs, para meu azar, e praticamente todos que eu seguia ou sumiram de vez ou se tornaram newsletter. O Brasil virou de cabeça pra baixo, Pablo Vittar supostamente vai estampar todas as notas de cem e eu finalmente deixei de ser caloura depois de três anos consecutivos aí na luta. Foram tantas coisas que já me esqueci da maior parte delas, por isso achei que seria legal responder esta tag chamada moon list que eu vi na newsletter da Anna Vitória. Basicamente é uma listinha de perguntas sobre o que aconteceu na minha vida desde a última lua cheia, que ocorre a cada 29,5 (!) dias.

Foi engraçado responder essa lista de perguntas porque Março me pareceu um mês infinito, mas quando coloquei no papel, tive a impressão que eu não tinha feito absolutamente nada. Passada a crise existencial, consegui pensar em algumas coisinhas para preencher cada tópico, e no fim achei a ideia tão legal que pretendo repeti-la todos os meses no meu diário.
                                                                                 
moon list: diários de março de dois mil e dezoito

NATUREZA
Uma experiência íntima com o mundo natural

Faz um tempo que eu sigo algumas pessoas no instagram que praticam uma “dieta” frugívera e vegancrudívora. Eles lançaram uma campanha chamada “Semana Frugi” que consiste em você só comer alimentos crus veganos, principalmente frutas, e bem, eu quis experimentar. Foi uma experiência muito bacana e me fez refletir muito sobre minha alimentação e como ela afeta o meio ambiente, além de ter sido uma semana bem produtiva e com estabilidade emocional. Não aderi ao frugismo, mas estou comendo muito mais frutas e fazendo saladas mais complexas e, modéstia parte, mais gostosas. Ter consciência sobre o que você come é se conhecer, é entender seu corpo.  Contei mais sobre a minha semana na minha conta do instagram, está lá nos “destaques”. 

OBJETO (ANTIGO)
Algo que foi redescoberto ou tenha sido valorizado de um jeito diferente

Este mês tomei coragem de fazer algo que achei que nunca faria: colocar alguns livros a venda. Estou precisando de dinheiro (e quem não está?) e olhei para alguns livros que estão na minha estante e percebi que provavelmente eles estavam lá só tomando espaço. Alguns eu nem gostava e outros eu sabia  que não releria, então qual era o sentido de continuar com eles? Faz um tempo que eu comecei a encarar o objeto livro de uma forma diferente do que eu encarava há uns dois anos atrás. Antes eu tinha uma vontade compulsiva de comprar TODOS OS LIVROS que eu via - mesmo aqueles que eu não ia gostar tanto e sabia disso. Eu tinha um certo prazer interno em comprar, adicionar na minha coleção e abarrotar a minha estante, aumentar um numerozinho que só eu me importava. Finalmente, percebi que isso tudo era uma GRANDE BOBAGEM.

Vendi todos os livros que me dispus vender (foram oito porque tenho em São Paulo uma coleção mais selecionada), e apesar de ter sido um pouquinho difícil, senti que foi a coisa certa e que preciso fazer isso não só com livros mas com outras coisas também, como roupas, sapatos, objetos, etc. Quero manter aquelas coisas que realmente fazem sentido para mim.


OBJETO (NOVO)
Um novo objeto que entrou na sua vida de um jeito significativo 

Uma das minhas roommates foi para uma cidade vizinha aqui perto chamada Embu das Artes e falou muito bem do lugar. Fiquei curiosa e planejei visita-la na semana santa. No começo pensei em ir sozinha, mas depois de uns dias solitária e meio desolada em casa, resolvi chamar um amigo. A verdade é que eu me acostumei tanto em passar o tempo sozinha que eu não lembrei de que existe a possibilidade de estar com alguém.

Já disse outras vezes que levanto a bandeira de “faço as coisas sozinhas, não deixo de me divertir porque não tenho outra pessoa para faz tal coisa” e gosto de sacudi-la pro alto de vez em quando, pois é gostoso e muito importante apreciar sua própria companhia. Mas eu estava pensando seriamente esses dias se esse comportamento já não estava virando algo que me faz mal e que me afasta das pessoas. Tudo tem que ter um equilíbrio. Por isso, convidei dois amigos para irem comigo, um deles conseguiu e assim partimos para Embu das Artes, uns trinta minutos de São Paulo (pegando o ônibus pelo Butantã).

A cidade tem um centro muito bonitinho e me lembrou bastante as cidades históricas de Minas Gerais (mais conhecidas como as cidades mias lindas do Brasil). Comemos torta holandesa, salgados veganos, comida da mãe de um cara e experimentamos muita cachaça (!). Bem no finzinho fui numa barraquinha de uma francesa que vendia peças de cerâmica de alta temperatura. Foram as peças mais bonitas que vi em toda a feira, e como eu tinha comprado uns incensos, resolvi levar um incensário. Ele é azul, com um desenho lindo de folha e pequeno como a palma da minha mão. Especial por ser meu primeiro incensário, querido por ser um objeto que representa um dia muito legal e, o mais importante, valioso por me lembrar de um momento de autocuidado e mudanças.  

SURPRESA
Uma experiência com forte teor de surpresa ou choque

Bem, a surpresa nada agradável que todos tivemos este mês foi a morte de Marielle. Não tem muito mais para falar sobre o caso do que já foi dito, mas lembro que quando recebi a notícia foi um choque muito grande e a única coisa que consegui pensar em fazer foi ir para a rua. Não me considero militante, mas a energia que aquela manifestação exalou foi incrível. Me arrepiei toda e chorei. Tanto os discursos de diversas pessoas que a conheciam quanto o barulho da bateria me fizeram pensar em tudo o que o nosso país está passando e isso me deu um medo tremendo misturado com raiva.

ENCONTRO
Encontro com estranho ou conhecido que tenha te impactado de alguma forma

Não tive nenhum encontro que exatamente me impactou ou qualquer coisa parecida, mas quando eu cheguei de viagem foi muito bom reencontrar algumas pessoas. Primeiramente, “meus” animais que provavelmente eram as coisas que eu mais sentia falta enquanto eu estava fora. Segundamente, rever o moço que faz meus olhos brilharem e meu coração bater mais forte, um momento muito especial assim como todos que passo com ele (!!!! Alguém me segura pois não consigo!!!!), com direito a conchinha, vinho branco, queijo comte, fotos, amor, gatinho e mais conchinha (a coisa mais importante do universo).

NOITE
Algo memorável que tenha acontecido numa saída noturna

Bem, eu não saio (risos). Porém, posso dizer que pedir uma pizza inteira e comer sozinha foi algo bem memorável que fiz numa noite em que eu queria me dar um presente.

DIA
Um dia significativo passado fora de casa

Foi exatamente no dia primeiro, o último dia da lua cheia anterior e meu último dia em Paris. Fico pensando se bater na tecla dessa cidade pode ser chato, mas não dá para não dizer.

Acordei cedo e fui para Île de la Cité, meu lugar preferido no mundo. Estava muito frio, mas fazia sol, e havia várias gaivotas rondando o Rio Sena. Almocei no bairro Saint Michel e paguei dezoito euros no melhor almoço do mundo: moules como entrada, confit canard como prato principal e créme brulée de sobremesa. Depois passei na ilha do lado e comi um belo sorvete de caramelo salgado. Fui a uns brechós que encontrei no caminho e entrei na Notre Dame. Mas o que mais gostei de fazer foi apreciar o fato de o tempo passar tão devagar, quase como um sopro divino, o que fazia tudo ser tão bonito e melancólico. Um dia feliz.    



SOZINHA
Sobre tempo passado sozinha

Poderia falar do dia em que resolvi ir pra exposição do Basquiat. Ou quando fiquei a noite inteira passando produtos de pele. Poderia falar também desta semana inteira que passei cuidando dos animais e da casa completamente sozinha. E também quando quase virei a noite vendo Gilmore Girls e chorando um pouquinho. Mas vou falar só de passagem do dia em que eu fiquei lendo meu diário de viagem, vendo fotos antigas, pensando na minha família e no que eu quero para minha vida. Esse dia pode ser qualquer um daqueles outros, inclusive pode ser todos, mas achei que valia a pena deixar marcados esses momentos cheios de feelings que são impossíveis de se ter se não for sozinha.  

COM AMIGOS
Sobre tempo passado com amigos

Logo no começo do mês tive a festa mais esperada do ano™, também conhecida como “festa de Aniversário do Lucas e seus crepes maravilhosos”. Ir para lá foi, bem… uma odisséia. Coloquei no uber um endereço e por uma letra parei do outro lado da cidade (risos), mas no final fui com fé e cheguei com duas horas de atraso, mas cheguei. Foi muito gostoso rever todos os meus amigos que não vejo com tanta frequência (uma vez que eles fazem o outro curso, aquele que eu abandonei, que é num horário e em um prédio diferente), além dos crepes, que são maravilhosos, mon amour, je n’ai pas de mots. Além de uns quilos a mais, a festa rendeu ótimas fotos (que podem ser vistas abaixo).

Também tive um jantar com uma amiga muito querida cujo codinome neste blog será Lóri Lóri. Fui conhecer a nova casinha dela aqui em São Paulo e ela fez creme de milho (muito bom), algum molho com pepino (muito, muito bom), batatas na manteiga (ela sabe que eu amo <3), e salada de quinoa (que me fez gostar de quinoa) e fechamos a noite comendo um chocolate muito gostoso que encontrei por seis reais na República.




FILME/TV/LIVROS
Três categorias que revelam como vivemos

Este mês foi o mês que decidi de vez voltar a ser uma leitora assídua. Comecei a sentir falta de ler a todo momento, uma coisa que fui parando gradualmente por causa faculdade. Voltei a ler em pé no metrô, no ônibus, enquanto espero a fila de banco, ou quando estou sem nada pra fazer em casa - e devo te contar que isso está me fazendo extremamente bem. Desde o dia um, li o livro Le Prisonnier du Ciel do Zafón, que foi um livro que ganhei na França, por isso o título está em francês apesar de eu ser brasileira e o livro ser espanhol (!). Foi um romanção bem daqueles de folhetim, que a gente já sabe mais ou menos como as coisas vão acontecer, e bem, foi divertido, mas nada espetacular. Também li O Romance de Tristão e Isolda para a faculdade (Literatura Portuguesa) e gostei muito mais do que achei que gostaria, na verdade, me deu vontade de voltar a ler histórias de cavalaria, um dos meus gêneros preferidos. Agora eu estou na metade de um calhamaço incrível, Helena de Tróia: deusa, princesa e prostituta, que é basicamente um livro de estudos sobre a representação de Helena através do tempo, além de reconstruir mais ou menos como a Helena “real” vivia e como ela era adorada na antiguidade. Encontrei minha vocação acadêmica, finalmente.

Desde que eu voltei da França, na verdade um pouquinho antes de voltar, eu comecei a rever Gilmore Girls. Estava precisando de algo que me confortasse e essa série sempre me traz uma sensação boa. No momento estou indo para a sexta temporada. Estou gostando de rever porque estou olhando para alguns personagens de outra forma, e perdoando um pouco os erros da Rory. Foi nesse tempo também que eu finalmente vi Divertidamente, que sinceramente achei meio mé, e só serviu pra reforçar o meu ranço com o fato da Pixar ganhar sempre todas as premiações mesmo quando ela definitivamente não merece. E, obviamente, continuo vendo Masterchef firme e forte, graças a deus.

ATOS CRIATIVOS

Com certeza o meu maior ato criativo neste mês foi ter a certeza de querer voltar a escrever para o blog. Tive várias ideias para posts e projetos futuros, espero sinceramente que eu não perca a vontade de fazê-los. Voltar a escrever está sendo muito excitante e renovador e quero muito aproveitar este momento de explosão para perder o medo das pessoas e da aprovação delas. Sempre tive muito receio de lerem as minhas coisas, apesar de escrever num blog, um lugar que teoricamente tem que ser lido  ¯\_(ツ)_/¯

E como foi o mês de vocês? 

3. cubano, si señor

2 de abril de 2017
Para ler ouvindo:




Sexta-feira é dia de ballet. E como todo dia de ballet, depois da aula, eu estou quase morrendo de cansaço. Por isso, na hora de voltar pra casa, geralmente eu fico bem quietinha, no cantinho e espremida na cadeira do ônibus, lutando contra o sono e tentando não lembrar que no dia seguinte tem de novo (mas eu amo não se enganem). Nesse pacote de introspecção, inclui não olhar para as pessoas.

Mas como eu já disse por aqui e vale a pena repetir: eu adoro andar de ônibus. Esta sexta-feira, em especial, foi importante para me lembrar do por que do amor, já que a rotina ás vezes faz a gente esquecer. Num certo momento da viagem, fui colocar uma blusa de frio com todo o cuidado para não esbarrar na pessoa que estava lado, fazendo um movimento digno de uma contorcionista experiente, sem desviar o olhar da janela e esperando não chamar atenção. Mas falhei! R. me encontrou! E ainda bem. 

- Você é balarina? Fez un movimento aí con os brazos!

Tomei um susto. Olhei para o lado e vi um homem moreno, com cabelos bem cacheados que miravam o céu e, não podia passar despercebida, a característica mais marcante: o sorriso, obviamente - porque quando não é clichê não tem graça. O que dizer do sorriso daquele rapaz? De forma metonímica, ele fez esquecer o meu cansaço. Respondi que era bailarina de ballet clássico, não profissional, e que já dançava fazia uns dois anos. Ele achou incrível.


Ele tinha um sotaque espanhol muito agradável e sutil (e eu estou tentando reproduzi-lo porcamente por aqui), que me deixava curiosa para perguntar de onde vinha. Como eu morei por um tempo com uma espanhola (um beijo pra ti, Araceli), eu sabia que algumas pessoas ficavam ofendidas quando são questionadas de prontidão sobre a sua nacionalidade, principalmente quando tentamos adivinhar de qual lugar ela vem. Assim, resolvi esperar o momento certo.

Ele me contou que dançava salsa e que dançar a dois era uma de suas grandes paixões. “É espirituoso, é vivo!” ele disse, e eu concordei. Comentei que fiz algumas aulas de gafieira e achei muito gostoso.  Depois de acabar o assunto da dança, fomos para o que cada um fazia da vida. Eu disse que fazia Letras e ele, cinema. Não estava na faculdade no caso, ele já trabalhava com isso e gostava muito.

- Aqui en São Paulo é o melhor lugar para se trabayar con isso!

De fato é, eu disse. Conversamos sobre como São Paulo tem uma vida cultural intensa, uma cidade que nunca dorme e como a amamos por isso e por outros motivos. Admiti que eu sou bem caseira e quase não saio, e ele reagiu dizendo que ficar em casa é até bom, mas é preciso lutar contra essa vontade ás vezes e ir conhecer a cidade e tudo o que ela tem para oferecer. Com o repertório de ir para o nordeste, sul e norte do país enquanto eu mal, mal visitei os quatro estados do sudeste, fiquei até um pouco sem graça da minha caseirice. Quando ele me perguntou se eu era de São Paulo, pensei logo que estava ali a minha oportunidade de saber de onde vinha aquele sotaque:

- Eu vin de Cuba.

Eis a surpresa. Tive que me segurar para não fazer mil perguntas, desde  políticas até bastante pessoais:  como veio parar aqui? Por que saiu de lá? Gostava de onde morava? Voltaria a morar? Como são os hospitais? Eu adoro Buena Vista Social Club, viu? Uma força descomunal, diga-se de passagem, mas o bom senso venceu a curiosidade, afinal, ele já devia estar cansado de responder perguntas similares desde que chegou aqui. Me limitei então, a responder um "MUITO LEGAAAAL!!! Nunca conheci alguém de Cuba antes!"

Conversamos por mais algum tempo até nos aproximarmos do ponto que ele descia. Como último recurso, pegamos o nome um do outro para tentar adicionar no facebook. Eu, como sempre, esqueci o sobrenome dele dois minutos depois. Torci, sem esperanças, que ele se lembrasse do meu. "Betini? É italiano?". 

Qual foi minha surpresa quando vi, no dia seguinte, esta mensagem:

"Hola Paloma!!! Lindo ter te conhecido! Espero encontros futuros! Bom final de semana! Besos!"

R. me encontrou de novo! E ainda bem.


        

o primeiro livro de cada uma das minhas vidas

21 de janeiro de 2017
Obs: esse texto foi escrito como um trabalho extra para a faculdade, baseado na crônica de mesmo nome da Clarice Lispector. Por favor, sem comparações, rs.

É preciso um grande dom de autoconhecimento para descobrir quantas e quais vidas você já teve. Eu mesma não o possuo, mas gosto de imaginar que tenho dentro de mim várias: uma vida de leitora, uma vida de filha, uma vida de estudante, uma vida de ser... – e dentro de cada uma delas, há um eterno renascer, como se explodissem novas fontes vitais em todos os momentos de renovação.

A minha estreia como leitora foi o livro “O Pequeno Príncipe”. Li-o com sete anos. Minha mãe nunca foi de ler, mas queria ter uma filha rata de livros – por isso, leu comigo as primeiras páginas para assim me despertar a vontade de continuá-lo, já que eu não tinha lido nada tão longo antes. Lembro-me de acha-lo muito engraçado: imaginar os cabritos mal desenhados pelo narrador me parecia muito divertido, e o ato de olhar para um desenho como uma cobra engolindo um elefante ao invés de um chapéu, curiosíssimo. Até mesmo o contato com a morte pelo tombamento do príncipe não me amedrontou: afinal, ele voltaria para seu planeta e as estrela sorririam para mim dali em diante. Depois dessa primeira vez, o reli diversas vezes, todas elas prontas para sinalizar um novo renascer em qualquer uma das minhas tantas vidas – não só como leitora, mas, principalmente, como um ser em conjunto com o mundo.

O outro primeiro livro da minha vida (que foram os primeiros, na verdade), agora não só como leitora, mas como minha formação de eu, foi a série Harry Potter, assim como todos da minha geração. Ouvi falar pela primeira vez quando a filha de uma amiga da minha mãe, carioca da gema, disse que viu “reurepórter” no cinema. Eu nunca tinha ido ao cinema e muito menos sabia do que se tratava “qualquer coisa repórter”. No começo eu não me interessei: afinal, o que um filme de reportagens poderia me dar? Mas foi só eu olhar a única livraria da minha cidade (que fechou meses depois) que eu o vi tão grande e grosso, quase como uma caixinha de presente com letras brilhantes, parecia um livro que eu leria ao infinito. Não o comprei, peguei emprestado. Harry Potter foi então o primeiro livro que abriu portas para tantos outros, e, principalmente, foi a primeira coisa que eu gostei por mim mesma (excetuando, talvez, vulcões e dinossauros).

Depois, me aventurei por diversos clássicos da literatura: David Copperfield, Dom Casmurro, Lolita, Anna Karenina... Todos eles de extrema importância para a minha renovação como leitora. Mas o último que eu gostaria de falar é “O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D Salinger. Ele apareceu para mim num período de transição importante, entre o limite da adolescência e vida adulta (pelo menos o mais próximo de vida adulta que já tive) no qual passei por momentos de profunda depressão. O livro me fez refletir sobre os outros e sobre mim, como eu lido com o meu eu, como eu encaro a minha sensibilidade. Foi com ele que dei um passo definitivo, abrindo portas para a minha nova vida de ser.

Ainda espero por um livro que poderei dizer “esse livro sou eu!” num modo bem clariciano de dizer. Mas é provável que essa espera nunca se complete, uma vez que me parece, cada vez mais, que esse “eu” é composto por todas as minhas vidas, que se renovam de forma infinita (ainda bem!) e que só alcançará um equilíbrio quando tudo acabar em ossos.


Talvez, dizer que “esse livro sou eu agora” seja bem mais preciso.          

sobre mudança de casa, nova identidade, aspirações e felicidade

19 de janeiro de 2017
Desde quando li Harry Potter pela primeira vez, eu quis ser da Grifinória. Além do motivo óbvio dos meus personagens preferidos estarem na casa, eu realmente achava o lema "coragem e nobreza" o mais bonito de todos - ainda acho, inclusive. Ficava sonhando com o dia em que o chapéu seletor iria me colocar na casa vermelha e dourada (!), eu conheceria os marotos (!!) e seria tão inteligente quanto a Hermione (!!!). Tamanha foi a minha surpresa quando, no primeiro teste que fiz para saber qual casa eu pertenço, ele deu Corvinal. No primeiro, no segundo, no terceiro... até mesmo no Pottermore.

Não achava Corvinal ruim,  o pior era que, no fundo, eu sabia perfeitamente que eu tinha tudo a ver com a casa. Apesar de querer muito, sempre soube que não era corajosa o bastante (nem nobre) para estar com os grifinorianos - mas.a.vontade.não.passava! Pouco a pouco fui me acostumando com a ideia, sempre com uma pontinha de tristeza, mas com um certo orgulho crescente e um forte sentimento de pertencimento.


Até que, nesse início de 2017, as meninas que moram comigo resolveram  fazer o teste, o que me deu uma vontadezinha de voltar pro Pottermore. Descobri que o site passou por uma transformação e que eu poderia ou recuperar o meu usuário antigo, ou refazer a seleção das casas. Fui na segunda opção, pois estava curiosa, mas eu meio que já esperava qual seria o resultado, então fiz sem muitas expectativas. Quase pulei da cadeira quando o final do teste disse que eu era Grifinória. Eu realmente não entendi. Passei por uma crise existencial (!). Não aceitei. Já estava acostumada com a minha vidinha corviniana (?).




Depois de um dia ou dois, após o choque da mudança, comecei a refletir sobre os motivos que poderiam ter levado o resultado mudar  (levo a cultura pop realmente a sério mesmo, e você que é feio?). E o fato é que nesses dois anos morando em São Paulo, numa cidade tão assutadoramente maravilhosa, vibrante, desconhecida e selvagem, vi que é impossível passar por alto e eu não me transformar nem um pouquinho. Dois mil e dezesseis, principalmente, um ano extremamente especial em diversos aspectos, me desafiou de muitas maneiras conseguindo despertar uma coragem que eu não sabia que existia em mim. Estou longe de lutar contra Voldemort, mas estou conseguindo lidar com as minhas mini lutas diárias.

O ano passado começou com a minha decisão de mudar de curso, definitivamente. Antes eu estava fazendo História e não me identifiquei logo no primeiro semestre, mas fui empurrando por medo de enfrentar mais um vestibular, por medo de perder um ano, por medo de me achar velha demais (!). Até que depois de alguns sinais, percebi que a situação se tornaria insustentável e eu nunca seria feliz estando no curso em que eu estava. E, para finalizar, uma certeza cristalina crescia me mostrando que a minha verdadeira vocação era fazer Letras. Conversei com professores, alunos e amigos, e decidi migrar para o novo curso de forma não oficial, mas que me trouxe a maior felicidade do mundo: fazer aquilo que ama.

Isso me fez quebrar um bloqueio que estava me cercando há muito tempo. Comecei a me abrir e permitir um espaço para conhecer novas pessoas e fazer amizades, coisa que não tinha feito pois estava muito concentrada em mim, o que fazia eu me sentir extremamente solitária e infeliz. Voltei a me sentir empolgada, com vontade de explorar e viver. Consegui sair de uma república horrível, onde os meus momentos de ficar em casa (que eu tanto prezo) eram um verdadeiro inferno, e fui parar num lugar tão bom, mas tão bom, que chamar de lar chega ser pouco.


Acho que não é coincidência que eu tenha me apaixonado também. Uma consequência esperada. Complicada, se você for pensar que eu estava num relacionamento a distância há quase dois anos. E aí veio a segunda coisa mais corajosa que tive de fazer ano passado, que me causou mais dor do que qualquer outra: dizer adeus a quem ainda se ama, mas que era preciso dizer adeus. Chorei muito e ainda choro, mas permanecemos somos amigos e isso faz toda a diferença. Agora estou solteira (mas sozinha nunca (rs!!)), embarcada em algo tão incerto feito a vida, mas que me traz muitas alegrias e me desperta tantas coisas...




Foi em dois mil e dezesseis que eu realmente comecei a construir uma vida no lugar que eu escolhi viver. Eu já amava São Paulo de forma idealizada e  externa, mesmo morando nela, mas a partir desse ano que eu comecei a me sentir parte de seu microcosmo, de suas manias, de suas gírias e tepes, no seu ritmo e na vontade de gritar o quanto eu a amo. Consegui voltar a ser feliz, algo que, durante um período de extrema desilusão, cheguei a pensar que jamais seria de novo (dramático? talvez...).

Eu ainda sinto que a minha casa é Corvinal (não só pelos anos, mas porque é mesmo), porém essa mudança de resultado foi importante para eu perceber que estou me tornando uma pessoa que eu sempre quis ser. Lutas diárias são importantes. Mudar e, ao mesmo tempo, recuperar a si mesma, é extremamente delicioso. Ser selecionada para uma nova casa foi só simbólico.






Mais coisas legais que aconteceram em 2016:

- Comecei a ponta no ballet;
- Conheci o Kio, o Truta e a Sardinha <3 (E o Edgar, meu gato capixaba, apareceu no começo de 2016 também *_*)
- Participei de uma greve e ocupação de um prédio (da Letras, no caso);
- Apresentei minha iniciação científica no Sintusp;
- Fiz uma festa de aniversário e ganhei um bolo baseado em Harry Potter da minha querida amiga, Aline Porfirio;
- Voltei a ser usuária assídua de karaokês;
- Chorei vendo Animais Fantásticos e Onde Habitam;
- Tive as melhores aulas da minha vida;
- Minha autoestima melhorou 50%;
- A vida é bela.



Resoluções para 2017:

Eu sei que um novo ano, na prática, não muda nada, mas querendo ou não é o nosso ciclo que se reinicia, então é uma boa oportunidade de tentar mudar alguma coisa. Quero fazer metas bem atingíveis, vamos ver se consigo:

1. Me alimentar melhor;
2. Me alongar três vezes por semana;
3. Usar menos o celular;
4. Fazer uma limpa no facebook;
5. Fazer um trabalho comunitário;
6. Juntar dinheirinho pra uma viagem no fim do ano;

7. Ser mais organizada.



Tecnologia do Blogger.
Back to Top