I - por trás dos palcos

21 de junho de 2014
Quando a peça acaba, o público logo nos cerca. Com toda gentileza do mundo, agradecemos e sorrimos, pois estamos felizes e é o que desejamos fazer. É engraçado quando alguém diz "Nossa, como são talentosos!"ou "Vocês nasceram com uma estrela dentro de vocês!", pois um toque de romantismo é sempre agradável, já que ele é sempre acompanhado com um tal de idealismo que faz  parecer que somos tão importantes como aqueles atores de Hollywood - por um momento, somos todos Audrey Hepburn, Marlon Brando ou Greta Garbo. 

Mas o que o espetáculo não mostra, é que o que todos veem ali em cima no palco não é só algo nato; e sim, o fruto de um trabalho árduo que levou tantos dias quanto uma criança leva para aprender a andar. O nosso caso, por exemplo, foram dois anos tentando e destentando coisas, entrando e saindo pessoas, choros e risos estampados no rosto de cada um dos integrantes.

Eu soube que iria acontecer um teatro meio que por acaso - uma amiga minha tinha tuitado que iria fazer o teste, e eu logo fui atrás de saber mais. Eu posso não lembrar do dia, mas tenho a lembrança clara de como eu estava. Sempre soube qual o personagem que eu gostaria de ser, mas não sabia se eu teria capacidade para tal. Enquanto eu via as minhas concorrentes (pois naquela hora elas eram isso para mim, mas não há nada que o tempo não mude) se apresentando, o nervosismo acelerava. 

Tentei lembrar do tom da voz de Helena Bonham Carter;
Tentei lembrar da sua feição e da trilha sonora;
tudo perante um quase-tribunal: o meu futuro diretor e a responsável do projeto. 

Mal sabia eu, que o nervosismo de entrar com um papel era o primeiro de muitos outros desafios que estariam por vir.

Eu não teria como contar todas as modificações que foram feitas no roteiro desde então. Antes dublaríamos durante as canções, mas alguém mais experiente achou melhor que explorássemos as nossas vozes. Posso citar, é claro, a difícil tarefa de conseguir adaptar as nossas falas aos exatos momentos da trilha sonora. 
Aprender pouco a pouco explorar o nosso habitat natural - o palco. As modificações no elenco que foram necessárias: algumas por certos integrantes não estarem mais disponíveis, outras porque não havia a dedicação necessária vinda de outros. O quanto cada um evoluiu em cada apresentação feita.

Não podemos esquecer que nem todos os desafios foram enfrentados em cima do palco, mas também fora dele. O quanto a maioria do grupo trabalhou dias e dias construindo o cenário, e como muitos ainda se matam para montá-lo e desmontá-lo todas as vezes que apresentamos. Do quanto foi difícil encontrarmos o figurino e a maquiagem adequada, e como passamos horas e horas nos preparando para o grande momento. As vezes que corremos a cidade de ponta a ponta para conseguir patrocínio para pagar as contas, e mesmo assim ter que doar de nossos bolsos para a coisa ir adiante.

É claro que entre o grupo não foi sempre um mar de rosas, pois quando se está concentrado para que algo dê certo, as vezes falamos algo sem pensar. Quando eu disse acima que muitos choros aconteceram, eles não foram só de emoção. Muitos bate-bocas aconteceram, alguns sérios e outros nem tanto, mas acho que o espírito do teatro e da amizade sempre conseguiram superar todo o sentimento de mágoa que poderia existir entre a gente (e se não superava, esquecíamos por ora para um bem maior). 

Foram tantos dias ensaiando e melhorando. Foram noites mal dormidas e até provas-do-dia-seguinte mal feitas. Mas tudo se esvai quando finalmente apresentamos. 

É aquele tremor na artéria que por um momento você acha que está apaixonado, e talvez esteja mesmo pois o palco é apaixonante: aquele mistério de nunca saber o que irá acontecer... a expectativa de um publico satisfeito... o medo de errar as falas... a espera de cada palma. 

Ai!, as palmas.
Como esquecer delas? 
Afinal tudo o que fazemos é para recebê-las. Se o público soubesse o quanto é difícil segurar o sorriso ao ouvir cada palma! Como a gente fica lá atrás (enquanto um colega se apresenta), todos apreensivos, esperando que a platéia mostre alguma reação diante do que estão vendo. E a nossa maior recompensa é quando ouvimos o som das mãos soar pelos ecos do teatro. A nossa voz fica até mais forte. 

É no momento das palmas, quando estamos agradecendo, lá em cima, olhando para todo o público de pé e lembrando de cada momento que passamos para chegar ali, naquele exato lugar, naquele exato momento, é que eu penso que SIM, nós somos tão importante como aqueles atores de Hollywood, mesmo não sendo Audrey Hepburn, Marlon Brando ou Greta Garbo. Eu sou Paloma, você é Lucas e ela é Marisa, da mesma forma artistas, da mesma forma humanos, e da mesma forma gritamos por dentro e por fora, todas as vezes que a cortina se fecha. 

O grupo original do teatro. Antes de qualquer apresentação.
A primeira apresentação. Faltando algumas horas. Faltando uns gatos pingados.


E agora. Como cresceu! (com dois fãs do meio haha)

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