a primeira vez que ouvi a minha banda preferida

28 de julho de 2014
Esta postagem faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots do mês de julho. 
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Até hoje me lembro de uma reportagem do Fantástico que no final várias crianças em coro cantavam "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd. Eu devia ter uns oito anos na época, e lembro-me muito bem da sensação "já ouvi isso em algum lugar...". Naquela época eu formulei uma tese que algumas coisas são tão universais, que mesmo se a gente nunca a tenha ouvido de fato, ela já está no nosso subconsciente esperando para se manifestar. Então, mesmo se alguém esteja escutando neste momento "Another Brick In The Wall" pela primeira vez, ela ficará com a impressão de "já ouvi isso em algum lugar...".

Pare para pensar e você verá que não é algo tão absurdo assim, pois há coisas que parecem que a gente já nasce conhecendo. Você se lembra da primeira vez que ouviu falar de Shakespeare? De Beethoven? Pois é, nem eu. Mas eu me lembro, por mais universal que este nome possa ser, da primeira vez (ou uma das primeira vezes) que ouvi falar de quatro caras que mudaram minha vida. 

Beatles pra mim se encaixa perfeitamente na definição de coisas-universais-presente-no-nosso-subconsciente: você pode ir para qualquer lugar do mundo, mas o nome da banda sempre terá peso; você pode mostrar pra qualquer pessoa a foto do álbum "Abbey Road" que ela a reconhecerá, mesmo sendo por causa de uma paródia que ela tenha visto não se sabe onde.  Eu tenho certeza que a banda seria exatamente assim pra mim, um "conheço de não sei de onde", se ela não fosse a minha banda. Qualquer coisa que é nossa a gente conhece bem. 

A minha primeira lembrança quando o assunto é Beatles, é meu pai com seu velho e bom MP3 recheado de suas musicas preferidas. Eu me lembro dele pondo Beatles para tocar e dizendo "É isso que é musica de verdade, minha filha. Quatro pessoas, um baixo, duas guitarras - uma pra base e outra pra solo -, uma bateria, e ás vezes um teclado ou gaita para variar. Não precisa ter muita coisa para fazer boa música. A beleza está na simplicidade." Hoje eu entendo muito bem o que meu pai queria dizer, mas nos meus seis anos de idade eu não compreendia ao certo. Eu já gostava de Beatles, é verdade, mas achar aquela banda com musicas alegrinhas (no MP3 só tinha "I Want To Hold Your Hand", "Day Tripper", "She Loves You" e " A Hard Day's Night") a melhor do mundo? Longe disso! Naquela época eu estava ocupada demais ouvindo Sandy & Junior para me tocar. 

Mas aconteceu algo no final de 2009, como um presente de Natal não intencional, a descoberta do porquê de "The Beatles" merecer o lugar que tem a na minha vida. Eu tinha acabado de fazer 14 anos, e passava por uma transição musical como qualquer adolescente já passou na vida: Desde os meus onze anos, eu era viciada em uma grande cantora pop mas ela já não me completava mais (espero que a minha metáfora realmente dê para entender), e por isso tinha partido para o mundo das guitarras, baterias e baixos, um pouco mais perto das raízes mais rock n' roll do meu pai (apesar de estar na fase de Avril Lavigne, Evanescence e derivados, que não chegavam perto do que o meu velho escutava. Acho importante citá-los porque eles fizeram parte dessa transição que me fez chegar até El Grand Finale). Estávamos olhando para a televisão que passava algo irrelevante até que o marido de uma prima minha, Léo, começou a falar sobre a sua provável saída da banda (na época ele fazia parte do, nada mais nada menos, grupo "Clube Big Beatles", um dos maiores e melhores covers dos garotos de Liverpool do mundo). Quando deu por si, ele já estava falando sobre todo o seu amor e influência que Beatles tinha em sua vida.

Sem querer, eu fui contagiada com aquela atmosfera de amor que só essa banda consegue ter. Soube no mesmo dia sobre como Paul McCartney compôs Hey Jude para o filho de John Lennon, o impacto de "I Want To Hold Your Hand" por todo o mundo, a ascensão da banda, todos os primeiros lugares, a luta pela paz, o contexto histórico, como o Léo conheceu os quatro... E ele também me contou como o sonho acabou. Lembro-me bem dele descrevendo quando soube da morte de um dos integrantes:
"Eu era só um garoto, mas quando ouvi o jornalista dizendo a frase ‘O sonho acabou! Morre hoje John Lennon...’, não sei o porquê, mas senti um pesar muito grande. Não tinha uma ideia exata de quem era esse cara na época, mas a atmosfera ficou pesada e triste como se eu o conhecesse a vida inteira."

Eu talvez ainda não compreenda os motivos ao certo, mas logo depois desse dia, baixei a discografia dos Beatles e li tudo o que podia sobre eles. Comprei CD's, vinis, revistas, DVD's, livros... Ouvir Beatles passou a ser rotina diária! A melodia de suas canções entrava por meus ouvidos assim como uma luz que adentra em uma semente impaciente para germinar. E quando dei por mim, já havia crescido galhos, troncos, folhas e raízes. 

O que eu mais gosto de Beatles, afinal, é o fato que a banda me faz feliz mesmo quando ouço as musicas mais tristes nos dias mais infelizes. Talvez porque John Lennon me entenda, o Paul me consola, o George me anima e o Ringo... é  o Ringo. Quanto mais a conheço, mais certeza eu tenho que se trata da minha banda - acho que só se pode ter essa certeza quando nos identificamos além das canções, mas também em sua filosofia. Um dia alguém me disse rindo: "Mas que menina Beatles!", quando defendi o amor e a humanidade com todo o meu coração. E ele estava mais que certo.

O enigma de Jesse Pinkman

6 de julho de 2014
sem spoilers


Eu já nem tento negar que a minha alma adolescente ainda está agarrada em mim e admito que ela provavelmente não sairá tão cedo. E se paixões platônicas são uma marca registrada dessa época que custa a sair do meu eu, que assim seja. 


Hoje eu vim falar procês sobre cara que acabou com a minha vida. Sim, acabou. Ao contrário das minhas outras duas paixões platônicas fortíssimas - Edward (não é esse que você está pensando) e O Fantasma da Ópera - que traziam uma tristeza poética para eu sofrer e compartilhar; Jesse Pinkman, do melhor seriado da minha vida, trouxe o sofrimento real de algo real, e por isso não há nada que me fará superá-lo.

Primeiro temos que entender que Breaking Bad é uma serie que, mais do que tudo, fala sobre transformações, e por mais irracional que possa parecer, talvez seja por causa disso que Jesse tornou-se o personagem que roubou o meu coração e o levou pra looooonge, bem longe: se dentro de uma atmosfera terrível, pesada, violenta e que não tem volta, alguém consiga manter a sua essência - mesmo com traumas -, ela  pra mim, já é uma heroína. E ainda, para eu chutar o balde, dar as cartas e perder a dignidade, Jesse Pinkman se trata da pessoa mais doce e querida do mundo, que fez com que eu quisesse afastá-lo todo o mal que o cercava, fazê-lo sorrir depois de todo o sofrimento que ele passou, abraçá-lo e dizer: "tudo ficará bem, você não está sozinho" - mas não pude fazer nada, mudar nada, e isso foi de dilacerar. 


Vocês talvez estejam se perguntando, "mas que raios esse garoto tem?" e eu respondo, meus amigos: evolução. Vemos inicialmente um pseudo badboy, de calças largas, toca na cabeça e moletons até o joelho, viciado em drogas que parece não estar nem aí para nada além do seu próprio traseiro e que sempre termina suas frases com "yo" ou "bitch" (de preferência os dois) - alguém que tinha tudo para ser um personagem detestável, se não fosse, é claro, aquele olhar lost em seus olhos azuis. 

(Pois é, a culpa são dos olhos. 
Sempre dos olhos.) 

É claro que todos os personagens evoluem muito durante a série, mas o seu diferencial é que ao contrário de todos os outros, ele continua com a sua inocência. Aos poucos vamos vendo que por trás de todos os inúmeros "bitchs", se encontra alguém que pensa mais nos outros do que em si mesmo, alguém que se sacrifica sem pedir algo em troca. É admirável seu apego às pessoas, como ele se joga em suas emoções quaisquer que sejam, a sua lealdade por todos que ele se compromete com tal, e como não fosse o suficiente, ele nos surpreende a cada capítulo com o seu amadurecimento, com seus traumas, com suas atitudes - o único humano em um ambiente inumano.

Talvez alguém fale que é muito prepotente de minha parte dizer que eu o compreendo perfeitamente e que parece que eu o conheço muito além do que é mostrado no seriado. Mas digo em minha defesa que a tal da empatia rolou aqui dentro sinistramente, e que horas perdidas de sono e olhos inchados de tanto chorar, são só meras evidências.

E é por isso que eu jamais conseguirei superar Jesse Pinkman. Porque na verdade, eu talvez não queira superá-lo. 



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EXTRA: melhores momentos. e a vontade de ver tudo de novo?




inté
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