too sad for you, coxinha

21 de junho de 2016
Eu nunca tive problemas com "fazer coisas sozinhas". Sempre me orgulhei muito e batia no meu peito dizendo: se eu quero ir ao cinema, eu vou ao cinema, mesmo que eu não tenha companhia alguma pra ir. Eu ainda sou assim (risos) e ainda faço questão de deixar essa bandeira lá no alto com um discurso pronto de defesa à solidão e ao direito de se divertir sozinha (soou triste, mas eu juro que não é tão ruim!). Mas a vida, ai a vida, faz questão de sempre pôr a prova nossas convicções mais firmes.

Era sexta-feira (ou sábado, quem se importa) e descobri num momento de puro procrastinamento matinal que teria um festival de coxinhas na Avenida Paulista. Um.Festival.de.Coxinhas. Coxinhas. Coxinhas.  Sou uma dessas que se anima com a perspectiva de comer bem, não tenho vergonha nenhuma de me deslocar atrás de uma bela porção de coxinha e deus me livre do dia em que o meu mau humor permanecer mesmo tendo me empanturrado com um dos melhores pratos da alta gastronomia de botequim. 

Obviamente, no domingo eu não perderia a oportunidade de ir a esse festival de delícias. Até o dia, eu fiquei imaginando todos aqueles sabores prometidos e rezando pra que não seja tão caro, porque né, amigos, não tá fácil pra ninguém. Quanto o quesito "solidão", eu até compartilhei no facebook e tudo mais pra ver se alguém se animava a ir, mas como ninguém se manifestou, eu decidi que iria me aventurar pelas ruas seguras de São Paulo solitária mesmo. (nenhuma novidade por aqui)

Chegando na Bela Cintra, depois de ter conseguido me perder duas vezes (!), comecei a ver filas, filas everywhere. Aquela espécie de fila típica que dá a volta em um quarteirão e que eu inocentemente não havia previsto (!!) porque na minha mente, festivais eram realizados como feirinhas ao ar livre e não em restaurantes fechados. Um tanto desanimada, entrei na fila que parecia menor e fiquei analisando quanto tempo demoraria só para eu pôr os pés no lugar e quanto tempo demoraria para as minhas porções serem servidas. Depois de três minutos de pura reflexão, resolvi fazer a única coisa sensata que eu poderia fazer naquele momento: dar meia volta e ir pra casa.


Por mal ou por bem, olhando pra todos os lados daquele festival de filas de todos os tamanhos e tipos, fiquei pensando o que realmente fazia com que aquelas pessoas ficassem lá esperando e esperando, num frio relativo e com uma fome desgraçada. Seriam somente as coxinhas? Acho que nem o maior amante de coxinhas esperaria uma hora de fila, pra pegar uma ou duas e ir embora. Não foi difícil deduzir, mas não tão fácil admitir, que o que realmente mantinha todas aquelas pessoas era o fato de terem companhia. Amigos que ajudavam a hora passar, amigos que topariam pegar coxinhas de todos os sabores, amigos que fariam competição de quem comesse mais coxinha e outras bizarrices que só amigos fazem.

Dramático? Porque você não me viu descendo a Augusta, caro leitor. Sempre admirei essa rua pelo fato de ser muito humana, sempre gostei de olhar suas relações afetivas e como todos parecem muito mais contentes consigo mesmos. Mas naquele domingo, eu particularmente quis dar uma sumidinha, evaporar, chegar logo em casa e ir pra debaixo das cobertas – onde eu não deveria ter saído. Me senti um pouco deslocada, como se aquele lugar não fosse feito pra alguém como eu (síndrome da diferentona), como se realmente o mundo fosse reservado àqueles que possuem uma vida social mais recheada. (piegas nível hard)

Com esses pensamentos, resolvi tomar um sorvete.

Não, o sorvete não estava lá muito bom (e minha garganta definitivamente não aprovou a escolha). Dei uma choradinha no banho, me encolhi na minha cama, olhei fotos antigas dos meus gatos. Eu ainda sou pró independência, ainda gosto de fazer coisas sozinha, ainda gosto de ter momentos sozinha. Mas já não posso negar que sinto falta do outro lado também. Senti muita falta dos meus amigos de solos capixabas e da minha família que não vejo há tanto tempo, senti saudades de todos como eu não tinha sentido desde então. É importante que a vida mostre que você não é uma fortaleza como pensa, mas é triste saber que seus apoios estão longe quando você vem a baixo.

Mas tudo bem, vida que segue. Isso não vai me abalar ao ponto de me impedir de sair sem alguém (talvez irei pensar três vezes antes), mas talvez me ajude a dar mais valor aos momentos que passo acompanhada. Afinal, como um sábio provérbio chinês diz: os que perdeu seguem frente, tem outros troféu (não precisa fazer sentido).

Lorelai sempre me definindo bem

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